O lugar da gramática entre a norma e o texto: uma reflexão sobre o ensino de língua materna

Autores

DOI:

https://doi.org/10.55892/jrg.v8i19.2493

Palavras-chave:

gramática, texto, ensino de língua portuguesa, linguística textual, análise linguística

Resumo

O artigo analisa criticamente a relação histórica entre texto e gramática, evidenciando como a tradição normativa e a disciplinarização da gramática no Brasil produziram um ensino fragmentado e distanciado das práticas reais de linguagem. Parte-se da perspectiva de que, desde a Antiguidade, a gramática surgiu como instrumento de leitura e interpretação textual, sendo a chamada revolução da gramatização (AUROUX, 1992) responsável por transformar a língua em objeto de ensino e de poder cultural. No contexto brasileiro, a consolidação da gramática normativa, descrita por autores como Chervel (1990) e Bechara (2009), reforçou uma pedagogia prescritiva e descontextualizada, desvinculando o ensino da produção e da compreensão de textos. A virada discursiva, inaugurada pela linguística textual e pelas abordagens enunciativo-discursivas (MARCUSCHI, 2008; KOCH, 2014; ANTUNES, 2014), redefine a gramática como instrumento de textualização e de construção de sentidos, reposicionando o texto como unidade central da aprendizagem linguística. O estudo conclui que a reintegração entre texto e gramática requer a superação de modelos normativos rígidos, a valorização da heterogeneidade linguística e o fortalecimento da análise linguística como eixo formativo.

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Biografia do Autor

Suziane de Oliveira Porto Silva, Universidade Federal de Alagoas, AL, Brasil

Doutora em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura (PPGLL) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Referências

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Publicado

2025-10-15

Como Citar

SILVA, S. de O. P. O lugar da gramática entre a norma e o texto: uma reflexão sobre o ensino de língua materna. Revista JRG de Estudos Acadêmicos , Brasil, São Paulo, v. 8, n. 19, p. e082493, 2025. DOI: 10.55892/jrg.v8i19.2493. Disponível em: http://www.revistajrg.com/index.php/jrg/article/view/2493. Acesso em: 17 out. 2025.

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